QUANDO A FÓRMULA 1 saiu de férias no fim de julho, a principal discussão era: seria a Red Bull capaz de superar a icônica temporada da McLaren de 1988 e vencer todas as provas que ainda restavam no campeonato? Agora sabemos que a resposta é não. Mas naquele momento o cenário era muito claro, cristalino e honesto: diante de uma performance avassaladora e dos tropeços gerais da concorrência, seria impossível deter os taurinos. Ao fim da pausa do verão europeu, os austríacos seguiram impressionantes, sobretudo Max Verstappen. Mas o roteiro que desenhava um desfecho sem grandes emoções deu uma interessante guinada, que partiu curiosamente da Ferrari — talvez a equipe mais atrapalhada da primeira metade de 2023.
Não só a Ferrari, mas principalmente ela, é bom deixar claro. De toda a forma, é fato que a F1 voltou bem do tradicional descanso de meio de ano e passou a entregar corridas melhores e menos previsíveis, embora Verstappen e a Red Bull tenham vencido duas das três provas deste reinício de disputa. É bem verdade ainda que, na Holanda, a chuva enlouqueceu o grid e pôs muita gente a teste, incluindo o líder do campeonato e a escuderia italiana, que fracassou miseravelmente, diga-se. Mas outros nomes poderiam ter entrado na briga, como a McLaren e a Mercedes, mas os erros de estratégia e leitura de prova acabaram com qualquer esperança, o que deixou a impressão de que os austríacos continuariam nadando de braçada, apesar da corrida divertida em Zandvoort. No GP da Itália, entretanto, não houve interferência do clima ou qualquer outra questão circunstancial. Em solo caseiro, a Ferrari renasceu, e isso abriu a possibilidade de uma nova realidade.
+Da genialidade de Sainz ao desespero de Russell: cinco destaques do GP de Singapura
Ainda que Verstappen tenha vencido em Monza, não foi uma conquista fácil e óbvia. A SF-23 se mostrou veloz, o pit-wall trabalhou bem e Sainz se colocou combativo. Encarou a Red Bull e poderia ter ido além se o conjunto desgastasse um pouco menos de pneus e se Charles Leclerc tivesse também acompanhado o ritmo desde o início. Apesar disso, a Ferrari deixou o circuito italiano com a sensação de que, enfim, havia encontrado o caminho correto, depois de alguns episódios que a fizeram se tornar chacota.
Então, foi preciso esperar duas semanas até Singapura para uma nova chance de brilhar. E a equipe chefiada por Frédéric Vasseur pegou a todos de surpresa, mais uma vez. Acontece que o traçado de Marina Bay não era, no papel, o ideal dentro das características da SF-23, mas os engenheiros do time vermelho promoveram mudanças cruciais. Além da força nas retas, o carro mostrou equilíbrio e sofreu menos com as ondulações do asfalto urbano, ainda que o desgaste de pneus siga sendo uma questão cara à Ferrari. Acima de tudo, essa assertividade foi perfeitamente traduzida por Sainz.
O espanhol aproveitou o esquisito dia da Red Bull para cravar uma pole poderosa, depois de uma disputa de milésimos com George Russell e o companheiro Leclerc. Mas foi a corrida que contou a melhor história do fim de semana. Sim, a ausência dos taurinos na frente teve um peso enorme no desenrolar da prova e promoveu uma deliciosa sensação de imprevisibilidade, mas que foi confirmada depois pelo equilíbrio técnico apresentado por Ferrari, Mercedes e McLaren. Não só isso.
Carlos liderou do início ao fim com autoridade, sem erros. Largou bem e soube administrar a degradação dos pneus — ponto ainda fraco da Ferrari. Na parte final, foi inteligentíssimo. Ao notar a aproximação de Lando Norris, que tinha Russell e Lewis Hamilton na cola, o ferrarista reduziu o ritmo e deixou o oponente na zona do DRS. Assim, pode acelerar e afastar qualquer ameaça. Do outro lado da garagem ferrarista, Leclerc trabalhou bem desde o início, superando o inglês da Mercedes e tentou somar na estratégia dos italianos. E de novo, a Ferrari foi impecável.

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Como em Monza, a escuderia se preparou para a corrida asiática, cobriu todas as possibilidades e entendeu o que precisava fazer. Tanto que lançou mão de estratégias diferentes entre seus dois pilotos. Leclerc usou os pneus macios na largada para superar Russell e daí para frente teve uma leitura racional da corrida — contando, no fim, com uma improvisação astuta de Sainz.
Só que o triunfo em Singapura não foi fácil. Os italianos encontraram na Mercedes e na McLaren adversários fortes, sobretudo a primeira — em classificação e corrida. A esquadra octacampeã acertou nas decisões de configuração e ousou na estratégia durante o safety-car virtual já na parte final da corrida. A vitória passou perto, mas ali há potencial, como no carro laranja. O time comandado por Andrea Stella levou atualizações certeiras, como tem feito progressivamente desde a Áustria. E isso permitiu que Norris entrasse na briga. O pódio foi merecido, mas já é correto falar: a esquadra inglesa assumirá em breve o protagonismo.
E ainda há a própria Red Bull. Mesmo que tenha enfrentado inesperados infortúnios ao longo dos treinos e na classificação, em que não foram capazes de fazer os pneus funcionarem a pleno devido ao erro no acerto do RB19, os taurinos recuperaram parte da boa performance na corrida, ainda que as intervenções da prova não tenham sido úteis. Como de costume, Verstappen elevou o sarrafo, pulando do fundo do pelotão, após o pit-stop, para o quinto posto, cruzando a linha de chegada na cola de Leclerc — o que também não deixa de ser divertido.
Ao fim e ao cabo, Singapura foi um belo vislumbre do que a F1 seria sem uma única equipe dominante. E que campeonato seria, talvez o melhor de todos os tempos, pela qualidade desse grid de ponta. De toda a forma, Toto Wolff, o chefão da Mercedes, tem razão quando disse que a etapa asiática foi “uma lufada de ar fresco por apresentar um vencedor diferente e um pódio sem a Red Bull”.
De novo, é importante dizer que, em pistas mais convencionais, a esquadra dos energéticos deve retomar a liderança costumeira — só que agora talvez com bem menos de vantagem.
A Fórmula 1 dá sequência à temporada 2023 já na semana que vem, entre os dias 22 e 24 de setembro, com o GP do Japão, em Suzuka.
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